Livro 6

Livro 6

Capítulo 41


A Liturgia em nossa Ordem«»

Vértice e fonte

A Liturgia é o vértice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde procede toda a sua força. Nós, que o deixamos tudo para buscar somente a Deus e possuí-Lo mais plenamente, devemos celebrar a Sagrada Liturgia com especial fervor. Pois, enquanto celebramos, principalmente a Eucaristia, somos introduzidos no seio do Pai por meio do Filho, Palavra encarnada, morto e glorificado, na efusão do Espírito Santo, e entramos a comunhão com a Santíssima Trindade.

Signo de contemplação

Quando celebramos no coro o culto divino ou recitamos na cela o Ofício, nossos lábios pronunciam a prece da Igreja universal, pois a oração de Cristo é única, e por meio da sagrada Liturgia se faz extensiva a cada um de seus membros. Ademais, entre os monges solitários os atos litúrgicos manifestam de um modo peculiar a índole da Igreja, na qual o humano está ordenado e subordinado ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação.

Complemento da oração solitária

Nossos Pais, ao correr dos séculos, tentaram que nosso rito se conservasse adaptado a nossa vocação eremítica e ao reduzido de nossas Comunidades; por isso é singelo, sóbrio e ordenado antes de mais nada à união da alma com Deus. Nossa Mãe a Igreja, como sabemos, aprovou sempre a diversidade de ritos litúrgicos, que manifesta melhor sua catolicidade e unidade. E assim, por meio dos ritos sagrados podemos expressar as mais profundas aspirações do Espírito, e a oração que brota do íntimo do coração adquire uma nova perfeição ao reconhecer-se a si mesma nas palavras sagradas.

A Liturgia se completa com a oração solitária

Por sua vez, a oração comunitária que fazemos nossa pela celebração litúrgica, prolonga-se na oração solitária com a qual oferecemos a Deus o sacrifício íntimo de louvor além do que as palavras humanas podem exprimir. A solidão da cela é o lugar onde a alma, recolhida em silêncio, esquecida de toda a preocupação humana, participa da plenitude do Mistério em que Cristo, crucificado e ressuscitado, regressa ao seio do Pai. Assim o monge, que tende incessantemente para a união com Deus, realiza em si mesmo todo o significado da Liturgia.

Capítulo 52


O canto litúrgico«»

Modo de cantar e salmodiar

Nossa Ordem reconhece como próprio de sua Liturgia o canto gregoriano.

Devemos participar nos divinos louvores com atendimento e fervor de espírito e estar ante o Senhor não só com reverência, senão também com alegria, não com frouxidão nem sonolência, nem poupando a voz, nem mutilando os vocábulos, senão pronunciando com tom e afeto varonil, como é devido, as palavras do Espírito Santo.

Guardem-se a simplicidade e cadência no canto, para que esteja impregnado de gravidade, e fomente a devoção; já que devemos cantar e salmodiar ao Senhor tanto com o coração como com os lábios. Será ótima nossa salmodia se nos apropriamos o mesmo afeto íntimo com que foram escritos os salmos e cânticos.

Evitem-se na salmodia a lentidão e a precipitação. Cante-se com voz plena, viva e ágil, de sorte que todos possam salmodiar devotamente e cantar com atendimento, sem dissonâncias, com afeto e perfeição.

Na mediante fazemos uma boa pausa. Comecemos e concluamos todos a um tempo o princípio, a divisão e o fim do versículo. Ninguém se permita adiantar-se aos demais nem apressar-se; cantemos todos a uma, todos a uma façamos as pausas, escutando sempre aos outros.

Em toda leitura, salmodia ou canto, não descuidemos acentuar e concertar bem os vocábulos, quanto seja possível, porque o entendimento capta e saboreia ao máximo o sentido, quando se pronuncia com propriedade.

É sumamente conveniente que se forme bem aos noviços no canto e são dignos de louvor os que, depois de sair do noviciado, nunca descuidam tal estudo.

Nas Casas da Ordem celebre-se cantado tanto o Ofício do dia como o da noite, sempre que assistam ao coro ao menos seis padres hábeis.

Os chantres, que estão à frente de cada coro devem ser peritos para poder dirigir bem e oportunamente aos demais na salmodia e canto na forma dita, mas sob a direção e autoridade do Prior. É ademais dever seu corrigir com modéstia os que cantam demasiado lenta ou apressadamente, ou de modo diferente a como está prescrito, mas é melhor do que o façam fora do coro.

Os chantres, em seu coro, sobem ou baixam o tom dos salmos e de todo o canto do Ofício divino, quando pareça conveniente, com o fim de que todos possam cantar comodamente.

Nenhum outro, estando eles presentes, pode corrigir o canto do coro, exceto o Prior ou, em sua ausência, o Vigário.

Perseveremos, pois, nesta maneira de salmodiar, cantando em presença da Santíssima Trinidad e dos santos Anjos, inflamados em divino temor e íntimos anseios de Deus. Que o canto eleve nosso espírito à contemplação das realidades eternas, e que a harmonia de nossas vozes aclame jubilosa a Deus nosso Criador.

Capítulo 53


Cerimônias conventuais no Ofício«»

Reunião na igreja

Logo que ouvimos o sinal para cantar conventualmente na igreja as Horas do Ofício divino, deixando todas as outras ocupações, devemos encaminhar-nos com prontidão a ela, guardando o maior recolhimento e gravidade. Porque nada é lícito antepor à «obra de Deus».

Ao entrar na igreja, benzemo-nos com água bendita, e vamos a nossas cadeiras; antes de entrar nas formas fazemos inclinação profunda ao Santíssimo Sacramento. Fazemos também dita inclinação nas arquibancadas do presbitério, sempre que a ele subimos ou dele baixamos, ou quando passamos ante o Santíssimo.

Ao chegar às cadeiras ficamos de pé, voltados para o altar e talheres, preparando-nos em silêncio para o Ofício; dada o sinal pelo Presidente, inclinamo-nos ou nos ajoelhamos para a oração, segundo o peça o tempo.

Enquanto se faz oração em silêncio antes uma Hora, não entramos à igreja.

Pelos intervalos de silêncio, nossa oração pessoal se une mais intimamente à Palavra de Deus e à voz pública da Igreja.

Na igreja evitamos todo ruído por reverência à divina Majestade; estamos com o devida compostura; temos as mãos fora da cogula. Sempre e em todas as partes temos de ter a vista recolhida, mas principalmente na igreja e o refeitório.

Cantadas as Horas ou finda a Missa ou outro Ofício, o Prior sai o primeiro da igreja, depois o Vigário e, seguidamente, os demais. Ninguém deve deter-se então na igreja ou outra parte, a não ser que uma evidente necessidade o justifique.

Capítulo 54


Cerimônias do Ofício na cela«»

O Ofício canônico

Se alguma vez a evidente debilidade ou a excessiva fadiga nos obriga a sentar-nos durante o Ofício divino, ou se estamos em cama por razão de doença, rezemos, não obstante, com a reverência possível.

Porque no Ofício divino, onde quer que se reze, tem-se de guardar cuidadosamente reverência e dignidade, por ser em todo lugar uma mesma a Majestade e Divindade daquele em cuja presença falamos, e que nos olha e atende.